( Resenha ) Deserto de Ossos de Chris Bohjalian @EditoraNacional - Clã dos Livros

( Resenha ) Deserto de Ossos de Chris Bohjalian @EditoraNacional

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Leia a sinopse, AQUI.

Resenha
“ A resposta curta para aquela primeira pergunta – Como um milhão e meio de pessoas morrem sem que ninguém saiba? - é realmente muito simples. Você as mata no meio do nada.”

Logo que li a sinopse desse livro me interessei. Fiquei realmente chocada de como um fato histórico dessa proporção não é ensinado e nem mesmo comentado nas mídias.

Digo isto, pois durante a escola, nas aulas de história, estudamos bastante sobre a segunda guerra e as atrocidades que foram cometidas nos campos de concentração. Todo 11 de setembro, temos reportagens que nos lembram do atentado terrorista nas torres gêmeas. Então como um genocídio pode ser tão desconhecido assim?

Deserto de Osso então vem nos mostrar fatos que aconteceram durante a Primeira Guerra. Em 1915 aconteceu um massacre de milhares de armênios no deserto Sírio.

“O dia 24 de Abril de 2015 marca o aniversário de cem anos do cerco dos intelectuais, profissionais, editores e líderes religiosos armênios em Constantinopla, que resultou na execução da maioria deles. Era, indiscutivelmente, o começo dos oito anos mais torturantes da história armênia – embora o pior fosse ocorrer nos doze meses seguintes, culminando com os massacres de Ras-el-Ain e Del-el-Zor em abril de 1916.”

O livro é um romance inspirado nos acontecimentos dessa época. O autor utilizou várias pesquisas para inspirá-lo e deixar a história um pouco mais próxima da realidade. 

O livro intercala momentos do passado com o presente. No presente temos Laura, uma mulher em busca das histórias sobre o genocídio armênio e principalmente das histórias de seus avós, o armênio Armen Petrosian e a americana Elizabeth Endicott.

Assim temos as passagens do passado, que são lembranças de pessoas que estavam presenciando as atrocidades de perto. A maioria das vezes, são de Elizabeth e Armen, mas também temos passagens de soldados e de vítimas.

Elizabeth Endicott foi para Alepo em uma missão com seu pai, tinha como função escrever relatórios para a Instituição “Amigos da Armênia”. Seu principal papel era passar todos os fatos que ela presenciasse no período em que estivesse no local, seria a testemunha ocular do Massacre, ajudando a Instituição arrecadar mais fundos para axiliar os necessitados.

O que ela não esperava era encontrar em meio tamanha tragédia e tristeza um homem por quem seu coração batesse mais forte.

“Enquanto ela sobe a escada escura para o seu quarto, acha interessante que o pai tenha considerado que a filha havia correspondido à atração que os soldados alemães pareciam ter sentido por ela. Mas até aí, talvez Elizabeth não devia estar surpresa. Eles eram altos e loiros. Ainda assim, a verdade era que ela não havia pensado muito naquela dupla. Ela havia pensado quase somente no armênio.”

Durante todo o livro podemos perceber a força e inteligência de Elizabeth, uma mulher muito solidária e que busca ajudar as pessoas que encontra durante a viagem. Não abaixa a cabeça e procura deixar sempre a sua opinião, além de buscar aprender a língua e o corão durante sua visita. Uma real inspiração para todos nós.

Já Armen é um armênio, engenheiro, fala inglês e um verdadeiro sobrevivente. Um rapaz cheio de feridas na alma, muitas das quais impulsionam sua vida e aumentam a vontade de entrar na batalha contra os turcos. Armen busca informações em todos comboios de sobreviventes que encontra, tudo o que deseja é saber um pouco mais sobre o fim que teve sua esposa e sua filha, que tinha menos de 1 ano. Angústias, raiva, vontade de vingança, remorso e tristeza. Com este personagem temos vários momentos em que os fantasmas atormentam os pensamentos e como o amor é o único sentimento capaz de nos fazer seguir em frente pensando em um futuro, quando tudo o que queremos é que a dor passe.

“Quando parece que você não tem nada pelo que viver, a morte não é assim tão assustadora. […] “estou com medo agora porque comecei, novamente, a sonhar com um futuro”. 

Não posso deixar de citar dois personagens que também se destacam nessa trama, Nevart e Hauton. Elas são sobreviventes que receberam toda a atenção de Elizabeth, e tiveram dela a consideração de um membro de família. 

Nevart, uma mulher, esposa de um médico que não teve a vida poupada, estudada e com conhecimentos em enfermagem. Durante a longa caminhada que as refugiadas tiveram que fazer até Alepo, a personagem se conecta a uma garotinha. Seu instinto materno, apesar de não ter filhos, faz com que busque sempre proteger a criança. E graças a ela, Hauton consegue passar por várias situações cruéis que ira sofrer nesta época. Com ela podemos ver que não são somente os laços sanguíneos que impulsionam as ações de cuidado e carinho.

“- Uma caverna fora da cidade. Eles as conduzem para dentro e então fazem uma fogueira na entrada. As crianças morrem sufocadas lá dentro. […] Há pouco espaço no orfanato. E os turcos podem insistir que eles fechem, de qualquer jeito. […] Sim. Afinal, por que se preocupar em matar os adultos se você vai permitir que a próxima geração viva? Não faz sentido.”

Hauton, uma garotinha, que presenciou durante a infância coisas terríveis que a maioria dos idosos jamais sonharam em presenciar. Uma verdadeira lutadora, que não sucumbiu as tristezas ( e olha que teria mais do que motivos para sentar e chorar por toda uma década) e continua tentando entender o que estava acontecendo. Desta personagem temos a oportunidade de ver como algumas situações cruéis são interpretadas por uma inocente criança. E como aquelas crianças que sobreviveram estarão marcadas por toda a vida.

“Mas Hatoun teme que se começar a falar – a oferecer-lhes mais do que o grunhido monossilábico ocasional ou (mais raro ainda) frases completas, porém muito curtas —, ela não vai ser capaz de parar de chorar. Ela vai ficar como a criança do outro lado da persiana, para quem chorar se tornou sinônimo de respirar.”

Laura nos traz os preconceitos que sua família enfrentou na vida e de várias situações embaraçosas que já passou por conta de seus laços ancestrais. Enquanto as passagens de Elizabeth, Armen e outros vem para nos mostrar o pior que o ser humano é capaz de fazer com seus próprios semelhantes. É totalmente inconcebível.

“Nenhum deus – nem o seu, nem o meu – aprova o que vocês estão fazendo.”

Apesar de ser ficção podemos pegar fatos que sabemos muito bem que podem ser reais. Só de imaginar minha cabeça doía e ficava muito triste de lembrar o quão cruel o ser humano pode ser.

Barbáries são vivenciadas em vários lugares, em vários momentos da história da humanidade. Temos vários rastros de sangue para nos mostrar que devemos sempre estar atentos nas decisões que tomamos e procurar sempre buscar fazer o melhor para o próximo. Somente quando entendermos realmente que a única forma de prosperarmos como espécie é colaborando com o próximo, poderemos aproveitar o máximo que a nossa capacidade intelectual tem a oferecer.

É um livro muito intenso e que me fez refletir bastante. Além é claro de motivar a minha pesquisa sobre o assunto. Deixo AQUI o link de um site bem interessante que tem vários outros links sobre a história.


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